Teologia negativa. O que é isso?

Teologia negativa

O que é isso? Diz a tradição teológica que tudo o que se afirma de Deus, não é Deus. Deus é algo mais, além dos objetos do nosso mundo. Na prática, essa teologia negativa é o princípio crítico de toda a teologia. Digamos: Nietzsche fez algo que é teologia negativa. Decretou a morte de Deus. Mas de que Deus? Do Deus burguês, submetido à razão burguesa e aos seus interesses. O que Nietzsche não fez foi o “círculo hermenêutico”, como Gadamer nos ensina no Wahrheit und Methode. Não chegou a uma autêntica imagem de Deus. As escrituras do AT nos trazem também um paradigma que pode ilustrar o que estamos dizendo. A torre de babel nos indica a negação de Deus pela afirmação de um projeto histórico centrado nos interesses humanos conflitivos. Pode-se dizer que foi um projeto em que se afirma a liberdade humana para si e não para os outros. Ligar a terra ao céu não é algo que não se possa desejar. Mas ligar terra e céu para mostrar a própria pretensão humana, nega a Deus pela afirmação do humano desligado de Deus. Não perfaz o círculo hermenêutico. Não apresenta nada de novo sobre a divindade, mas a esconde no entulho da divisão estabelecida a partir das singularidades dos indivíduos e dos grupos. Outro percurso é o do Deus de Jesus de Nazaré.

Na cruz de Cristo se proclama a morte de Deus, de uma figura da divindade do poder que submete, da força que atemoriza e perverte a liberdade humana. Nela se explicita o rosto do Deus de Abraão: sai da tua terra. Do Deus do êxodo: sai dessa terra da servidão para a terra da liberdade. do Deus da volta do cativeiro babilônico, peregrino com seu povo. Na cruz se nega qualquer figura da divindade submetida aos interesses e demandas do ser humano no mundo. Deus é gratuidade absoluta, livre no amor libertador. Lá se revela a verdadeira face do ser humano como ser para os outros. Jesus realiza a sua vida afirmando-se como livre no seu caminho, deixando Deus ser Deus. Na cruz se manifesta a verdadeira face do Deus de Jesus, que deixa o ser humano ser plenamente ele mesmo na sua livre decisão sobre sua vida e destino. Ele não se substitui ao ser humano, mas o manifesta na sua realidade criatural como ser para os outros. Aí se manifesta plenamente o ser humano como “imagem” de Deus no sentido da mensagem bíblica do Gênesis.

Pode-se afirmar assim que na cruz de Jesus se completa à perfeição o círculo hermenêutico. Não apenas se nega a figura idolátrica de Deus, declarando-a morta. Hoje a teologia negativa poderia ser uma crítica radical das afirmações baratas de Deus em nossas Igrejas cristãs. A teologia da cruz se torna assim uma chave essencial para essa crítica radical. Nela se manifesta a verdadeira face de Deus: um Deus para nós, porque é Deus conosco, um companheiro de viagem que nos faz crescer em nossa humanidade. O Deus de Jesus é humano e humanizador. Ele nos faz mais humanos. Por isso mais divinos.

 Cleto Caliman